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Intervenções XIII: David Magila

Museu Lasar Segall - setembro 2021 / janeiro 2022

A realidade fragmentada do mundo atual necessariamente produz expressões artísticas desintegradas, que se apresentam a nós em pedaços. Em um universo em que as coisas da vida se mostram em segmentos, mais como reprodução e locução do que propriamente como vivência, a desintegração das experiências estéticas e dos objetos nos quais elas se fundamentam se torna o material sensível a partir do qual muitos artistas estruturam suas obras. São ruínas de imagens e de expressão que nos apontam um caminho possível para a experiência artística contemporânea: líquidas e inconstantes, voláteis e dispersas. O que não significa que elas sejam desprovidas de sensualidade, beleza e deslumbramento, como o projeto Intervenções XIII de David Magila nos revela. Artista profundamente engajado com as possibilidades da pintura, campo no qual se sobrepõem elementos representados em cores gritantes estranhamente sedutoras, díspares, por vezes antagônicos – frondosas palmeiras, muros precários ou caídos, ordinárias cadeiras de plástico, cercados de madeira e para-sóis de praia –, ele plasma em seu trabalho bidimensional um léxico visual moído, em que o isolamento das coisas aponta para sua própria insignificância e permutabilidade. Ao sublinhar essas características, o artista reconhece a sutil beleza de suas infinitudes e o lirismo de suas insignificâncias.  Nessa poesia visual quebradiça, os respiros das lascas do mundo fazem-se protagonistas.

A presente exposição apresenta um conjunto de cinco trabalhos do artista que demonstram o esgarçar da linguagem de suas pinturas para o espaço da tridimensionalidade, engajando-se assim com a arquitetura do museu e suas particularidades, ao mesmo tempo que sublinhando as características fragmentárias de sua obra. Sobre certos pontos da instituição, janelas, coberturas, paredes e parapeitos, surgem peças de silicone em formato de tinta escorrida, fragmentos de pintura que aqui assumem a liderança. Em outros, se apresentam estruturas verticais de ferro, possíveis mastros de bandeira desembandeirados ou estruturas desmontadas, poças solidificadas de silicone abancadas sobre uma delas. Constituem manchas carregadas de um embevecimento táctil, desligadas de um espaço.  Mesas de plástico banidas de seus bares e coloridas num delicioso dégradé de garridas cores são implantadas em espaços verdes, enquanto carriolas prístinas de alumínio vomitam de seus interiores jorros quase jocosos de cores em tom pastel.

Uma estrutura, da série Sem eira nem beira, é o ponto central das híbridas e desmembradas investigações de Magila. Elementos constitutivos da pintura são nela sugeridos em materiais estranhos à prática, à guisa de mapas topográficos moldados em camadas solidificadas de cor, e suspensos numa estrutura de ferro, retângulo isolador, gaiola, quem sabe, do mundo. A beleza dessas formas siliconadas e as linhas sinuosas que elas desenham dão origem em seu interior a uma barra de ferro marcada por seus usos anteriores, torcida por sua história pregressa, impressa sobre si mesma. Antigo material de construção, ela aqui reaparece modificada, mas não alterada, as marcas de oxidação alimentando a beleza das aglomerações de silicone, das quais se origina. Ao mesmo tempo, elas retroalimentam as qualidades vívidas da barra resgatada. 

Constituída de fragmentos, da vida, da pintura, da própria experiência estética e de seus elementos constitutivos, a intervenção do artista sobre o espaço do museu fragmenta assim nossa vivência do espaço, fazendo com que nosso conhecimento das pequenas belezas do mundo, pintadas ou vividas, acidentais ou organizadas, sensuais ou intelectuais, se potencializem ao mútuo contato.

Giancarlo Hannud

Curador

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