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Sobre Frequentes Conclusões Falsas 36 e 37

A primeira palavra que me ocorreu quando olhei para as fotos das duas pinturas que o David me enviou foi “arqueologia”. Que ideia mais estranha para pensar sobre imagens que parecem representar um tipo de espaço arquitetônico hiper contemporâneo. Algo relacionado a um complexo de piscinas num clube ou parque aquático, alguém poderia sugerir. Mas me peguei lembrando de sistemas de irrigação e de construção de canais e aquedutos em civilizações antigas, como entre os romanos, egípcios e maias.

Como a pesquisa do Magila costuma transitar entre a ideia de ruína urbana e, cada vez mais, o descolamento da figuração do mundo para uma bricolagem de referências à ruína da tradição da pintura figurativa, considerei que uma abordagem “arqueológica” não seria de todo delirante demais. Essas duas telas destoam da produção mais conhecida do artista, marcada por uma paleta pop de cores vibrantes usadas “indiscriminadamente” sobre uma mesma superfície. Coloco entre aspas a desordem, por que ela é deliberada, um índice potente de artificialidade.

Além disso, aqui, um outro mistério que me inquieta é a ausência de água. Tem uma sugestão de água no efeito ótico de suave movimento dos contornos dos azulejos nos pequenos “tanques” ou diques, mas não vemos água jorrando das “torneiras” ou comportas da estrutura representada. A única água mais deliberadamente sugerida está fora do canal ou aqueduto: água mais densa que poderia ser um rio ou do mar. Mas essa está localizada nas bordas da pintura, como um “fora de quadro”. Penso no exílio de Lunga, de Bacurau, no miradouro de uma barragem sem água, ruína de um projeto para aplacar a seca no sertão pernambucano.

Juliana Monachesi

Curadora

@projetolegenda

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